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Considerações e Percepções Sobre o III Lifestyle Summit Brazil 2016

No último mês de novembro de 2016 tive o privilégio de poder participar do III Lifestyle Summit Brazil, um simpósio, a respeito da alimentação e estilo de vida para uma vida mais saudável e natural para recuperação de pessoas já doentes ou para a manutenção a saúde de quem ainda não está. Algo bem natural para o profissional de nutrição que tem como um grande pilar de sua formação a prevenção, porém diferente da formação de médicos que quase já não trabalha mais esta frente, desde que o pilar mais forte de sua formação nos dias de hoje é nos processos curativos.

Os palestrantes deste encontro eram profissionais bastante sucedidos em suas áreas (nutrição, medicina, atividade física), mas me chamou a atenção o fato de que nem todos eram acadêmicos (professores universitários, pesquisadores), alguns eram consultores de empresas farmacêuticas, outros apenas profissionais atuantes, mas com frequência usavam artigos científicos em suas apresentações para sustentar suas afirmações. Não me lembro uma apresentação onde os artigos científicos não compuseram os slides, guiando as afirmações dos palestrantes. Isso para mim significa que os estudos existem para sustentar as evidências, tendências e empirismos, porém um consenso sobre diversas questões apresentadas não é ainda existente por motivos como a metodologia de estudo, interações entre nutrientes, número da amostragem, controle nutricional, tudo aquilo que pode vir a limitar um estudo.

O evento me despertou mais uma vez a sensação de que hoje vivo num mundo artificial, e que comida que dispomos, para início de conversa, nos faz mal seja pelas escolhas erradas, pela qualidade ou quantidade, pela falta de dinheiro.... Os insumos utilizados pela indústria, por exemplo, foram adaptados para deixarem a vida das pessoas mais práticas, pois o tempo destinado a preparar a comida não é suficiente dentro das 24H do dia, nem mesmo o tempo para mastigar os alimentos é suficiente. Mas não adianta apenas ser pratico, os alimentos têm que ser saborosos, quase que viciantes, um sabor que nunca poderão ser reproduzidos em casa,  e portanto os industrializados se tornam imprescindíveis, mesmo porque são mais baratos e “nem sempre vale a pena cozinhar”. Portanto uma fórmula mágica para quem precisa vender! O que é prioridade para meu dia a dia? Talvez responder a todos os e-mails (muitos desnecessários) e mensagens do whatspp, assistir novela..... Enfim pela falta de nutrientes devido a minha ma qualidade alimentar, temos os encapsulados...

Quanto ao sono. A vida estressante de hoje não nos permite que nos desliguemos do trabalho, das telinhas eletrônicas, dos compromissos, das respostas mal recebidas de outras pessoas, das imposições sociais, dos sentimentos de culpas, por esta razão, não conseguimos relaxar. E pelo excesso de hormônio de stress, não chegamos ao sono profundo, não descansamos o suficiente, não damos as condições suficientes de reorganizarmos as ações fisiológicas e a homeostase. Como equilibrar isso? Como desligar? Como poder dormir o necessário? Neste caso talvez a melatonina...

Fiquei com dúvida se as frutas, legumes e cereais são alimentos orgânicos? Ah, livre de pesticidas e sementes não transgênicas, agora entendi porque sempre achei que os alimentos eram substâncias orgânicas. Onde está o tempo necessário de quem cultiva os alimentos? Parece que nem as pessoas do campo tem este tempo!! Há pressa em produzir mais e mais rápido. E a biotecnologia? Sendo fulminada pelas indústrias agroquímicas? Acho que comer frutas e verduras “não orgânicas” não seria a melhor das recomendações, vai que eu desenvolvo uma doença como câncer! Neste caso, por que não tomar encapsulados com Compostos Bioativos...

E a atividade física, temos tempo e prioridade para isso? Se fosse prioridade, estaria à frente das atividades da casa, do trânsito, da manicure, do bar, da necessidade de ganhar dinheiro (não basta ganhar o suficiente, há de se ganhar mais). Estas ainda parecem ser as prioridades de hoje, não importa se estou bem dentro de mim, já que vemos um número incrível de pessoas que podem estar bem acima do peso (gorda), mas suas unhas, roupas e cabelos tingidos demonstram que estão bem, muito bem, lindas. Esse é mais um aspecto do nosso lifestyle. Enfim, neste caso posso me beneficiar dos suplementos, também...

Assim o simpósio trouxe, através de profissionais muito bem respaldados pela ciência e com uma excelente retórica, que de acordo com o nosso contemporâneo lifestyle, há a necessidade de uma substância que nos ajuda dormir, e de uma gordura encapsulada que pode equilibrar o desequilíbrio ocasionado pelo excesso do consumo de outras gorduras, que os compostos bioativos em “x” ou/e “y” fazem o papel da fruta que não comemos, ou o papel das fibras solúveis e das capsulas de lactobacilos, que regularizam a flora e que deveriam ser obtidas através dos alimentos integrais, leguminosas, legumes, frutas, das quais também não ingerimos em quantidades suficientes ou não ingerimos e por assim vai. Sem falar dos lácteos, já que não somos mais bebês para consumi-los e que hoje levam a pior fama de que são os causadores e responsáveis de asmas, renite, sinosite, formação de mucos, etc., talvez a solução seriam os probióticos, alguns casos inquestionável, mas a suspensão deste grupo alimentar para qualquer pessoa, me parece excessivo. Me senti uma pessoa fora do normal neste encontro, por ainda ser a defensora do consumo deste alimento na fase adulta. Os lácteos são de baixo Índice Glicêmico (IG), a nossa melhor fonte de Ca, controlador de apetite, fonte de proteína de alto valor biológico, possui gordura CLA em sua composição (não aterogênica), ajuda veicular e absorver a vitamina D, a melhor opção de proteínas no pós treino por conter a quantidade de proteína exata para o meu atleta no pós treino, evitando que o consumo excessivo de suplementos proteicos.

Onde fica a matriz alimentar? Que por passar por todos os processos de digestão, principalmente a fermentação intestinal, equilibra todo o meu metabolismo. Nós estamos estudando e conhecendo o funcionamento metabólico e a interação entre alimentos, nutrientes, respostas imunológicas, mas se eu não estou “fora de mim” o alimento é nossa melhor opção. E porque o evento nos bombardeia com mensagens sobre isolamento dos compostos bioativos? Não poderiam evidenciar as pesquisas com o complemento/suplemento e o consumo destes alimentos. Só eu sei, como pesquisador, quão difícil é a realização de pesquisas com humanos, controlando o que eles comem, as limitações metodológicas são imensas. Mas o pouco que se vê na literatura com pesquisa neste sentido são todas unanimes, o processo de comer, digerir, ativar, preparar o intestino para absorção e a futura metabolização do nutriente é o segredo!

Pois bem, meu “lifestyle” permite?

Enfim, o salão de expositores, os maiores responsáveis pela concretização do evento (além da ideologia dos realizadores sobre a potencialidade dos alimentos x doenças) estava em peso no evento, já que, o nosso estilo de vida (lifestyle) não nos permite mais COMER. Apenas COMER, parece que é insuficiente – precisamos tomar pílulas ou manipular a dieta, as compondo de forma mirabolantemente de forma não convencional.

O Simpósio, ao meu ver, foi extremamente interessante e necessário, mas que não pode e não deveria deixar de culminar em linhas claras do que mais necessitamos hoje: um resgate ao tradicional lifestyle, um estilo de vida de bom senso. Resgatando a valorização da cultura inerentes de cada região do pais e do planeta; do resgate ao tempo em que o avanço da indústria alimentícia ainda não regia nossos hábitos alimentares (perguntas como: posso comer arroz e feijão? Ou posso jantar comida? Será que engorda? Me fazem sentir o quão as pessoas estão perdidas a respeito, pois com frequência opiniões absurdas são lançadas na mídia); apresentação de pesquisas a respeito de como podemos encontrar tal substância bioativa nos alimentos e quanto dele seria necessário para obter a quantidade necessária pelo organismo, não quanto do encapsulado devo tomar. Pelo que me lembro das aulas de farmacologia, a biodisponibilidade de uma substância quando isolada de um alimento requer cuidados para ser extraídas, concentrada, encapsulada, conservada até ser comercializada e quando ingeridas, devem passar pela interferência dos processos digestivos; sem falar da interação com outras substâncias quando administradas concomitantemente, como controlar isso?

E quanto aos lactobacilos, como posso analisar minha flora? como posso mapear “a bicharada” que a compõe? Talvez isso seria o passo para se pensar em restabelecer o equilíbrio, num transplante de cocô, de novas cepas. Mas quem garante que o composto de lactobacilos que me proponho tomar será capaz de sobreviver ao meio em disbiose que as pessoas não sabem como cuidar.

Sinto que ainda estamos engatinhando, apesar de ter escutados palestrantes bem convictos a respeito de suas práticas e experiências. Por esta e por outras razões que sou resistente ao que chamam hoje de Nutrição Funcional. O que é a nutrição se não funcional? Se eu não prescrever um suplemento, um fitoterápico, ou suspender os lácteos e/ou glúten, será que a minha nutrição tradicional deixa de ser funcional? Os diversos polimorfismos, as milhares de combinações genéticas, a epigenética tudo isso não é uma imensa diversificação de quem nós somos? Ao mesmo tempo pouco se sabe do que tudo isso pode significar? Como ponderar e controlar tudo isso? Logo os resultados de exames genéticos poderão ser uma ferramenta para a prescrição dos nutrientes necessários para compor o que realmente cada um individualmente precisaria para viver mais e melhor. O que me leva a pensar, como ficarão os momentos de aniversários, conversas em família, reunião diária com os familiares que costumam se dar em volta de uma mesa serão desnecessários.

Para finalizar, gostaria de dizer como me senti. Me senti dentro de uma elite de profissionais que atende uma elite de nossa população. Não é bem este público que enfrentamos no dia a dia, pelo menos pela a vasta maioria dos profissionais de saúde de nosso pais. Foi chocante sair do evento e olhar ao redor e ver as pessoas nas ruas por onde passei em São Paulo, cada qual com sua aparência, seus hábitos de vida (lifestyle), suas silhuetas. Parece que nadamos contra uma mare muito forte. Os alimentos “orgânicos” são muito caros e mais difíceis de serem encontrados, as pessoas parecem dormir menos do que deveriam, suas roupas e suas peles tatuadas parecem agressivas (se escondem, se defendem, se oferecem), falta tempo para atividade física (ao menos não parece ser uma necessidade/prioridade), os alimentos industrializados são agradáveis ao paladar e são de baixo custo.  Enfim, não atendo apenas a elite das cidades de Campinas, Americana, Piracicaba, Cosmópolis e Paulínia, portanto os profissionais de nutrição custam caro para quem ganha um salário mínimo, mas talvez barato para quem compra uma calça jeans de R$ 400,00 ou um tênis de R$500,00. Como ser coerente com estes valores, se as pessoas não sabem ao que dão o valor?

Enfim, como nutricionista preocupada em orientar e ajudar meus clientes/pacientes eu defendo a pratica nutricional baseada em conhecimentos consolidados da fisiologia e bioquímica sobre substratos energéticos e suas vias de produção de energia e metabolismo em geral, enfatizando os sistema imunológico. Uma dieta onde carboidratos e proteínas são calculados em g/kg peso, e a qualidade segue os preceitos de uma dieta típica mediterrânea.

As pesquisas de base apresentadas são necessárias e dão suporte aos profissionais, porém precisam ser melhor trabalhadas pelos difusores do conhecimento, a ponto de apresentar mais criticidade quanto a suplementação.


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